Com uma trajetória que inclui a liderança de times globais como C-level, Bárbara construiu uma carreira pautada pela excelência e hoje inspira mulheres a enxergar a ambição como caminho de realização.
Por Marina de Sá
A ambição sempre carregou uma aura de tabu, especialmente quando associada a mulheres. Para Bárbara Brito, no entanto, ser ambiciosa é combustível e estratégia. Empresária, Forbes Under 30 e uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia, Bárbara toma posse da profundidade desse conceito – e foi com essa visão de mundo que transformou passos certeiros em uma carreira de impacto.
De personalidade pragmática, Bárbara nunca se definiu como sonhadora. “Eu nunca gostei de usar muito a palavra sonhadora. Mas a ambição para mim sempre foi um lugar de estratégia. Apesar de ser algo que em algum momento é um sonho também – porque você imagina –, é mais pé no chão, porque quando você ambiciona, você sempre pensa em duas coisas: os prós e os contras. O sonho você não põe na ponta do lápis o que pode te acarretar, seja pro bem ou pro mal. Então você só vê o lado bom. O sonho é literalmente um sonho. Eu acho que existem muitas coisas para se sonhar, mas na carreira eu não sei se vale tanto a pena”, reflete.
Quando a conheci em uma palestra, perguntei quais ferramentas utilizava para não deixar a síndrome da impostora se aproximar. “Faço tudo com excelência”, respondeu. Sua trajetória é prova viva disso. “Para mim, a única coisa quando você se propõe a fazer algo é ser bom naquilo. Se você aceita um projeto, ainda que não seja o projeto da sua vida, seja bom no que faz. Eu não faço nada mais ou menos porque acho que isso forma muito o repertório e a reputação. O que mais importa para mim, independente da validação externa, é saber que estou fazendo um bom trabalho”, explicou durante a entrevista. Essa é a essência que transmite como persona e também compartilha em suas redes sociais, onde traz conselhos de carreira a partir de sua sólida experiência como estrategista de negócios.
Aos 17 anos, Bárbara deixou o Brasil rumo à Irlanda, onde cursou Comunicação na University of Dublin. Filha única de um casal carioca bem-sucedido, nasceu em Irajá, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e estudou em uma escola particular de elite. O ensino era católico, mas em casa a religião seguida era o candomblé. Viveu entre mundos por muitos anos até escolher o seu. Não aceitou a caixinha que a vida em sua bolha reservava – e foi aí que decidiu atravessar fronteiras.
O empurrão da família foi fundamental para se estabelecer na Europa, onde passou por diferentes funções até assumir a gerência de recepção em um hostel. E, em uma dessas sincronicidades da vida, foi convidada por uma ex-chefe para trabalhar como assistente pessoal do CEO do Selina, ecossistema de hospedagem e lifestyle que, na época, tinha 16 unidades pelo mundo. “Foi muito agregador e muito estratégico. Aprendi sobre investimentos e hotelaria. O início foi muito difícil e muito pequeno comparado às tantas posições que tinham dentro da empresa e que foram crescendo rapidamente. As pessoas achavam que eu era personal assistant apenas e eu estava ali aprendendo tudo até chegar a um cargo de c-level da empresa sete anos depois”, relembra a ex-Chief of Staff do Selina, responsável pelo departamento de Brand and Creative.
Assumir uma posição global de c-level antes dos 30 anos foi ao mesmo tempo desafiador e transformador. Bárbara deixou o cargo com mais de 30 carimbos no passaporte e 100 hotéis Selina espalhados pelo mundo. Conquistou seus primeiros bens, ampliou sua visão de mundo e decidiu retornar ao Brasil. Aqui, assumiu a cadeira de head de Operações da Obvious, plataforma de mídia e entretenimento multicanais voltada para empoderamento feminino, onde ficou por seis meses. Em seguida, investiu em empresas e cofundou o Mequelab, laboratório de comunicação que desenvolve narrativas empresariais inclusivas e já atendeu grandes marcas como Arezzo e Animale. Em paralelo, atua em todos os negócios dos quais é investidora.
Bárbara Brito é daquelas mulheres que chegam e preenchem o ambiente. Com sua visão pragmática e a ambição de quem sabe onde quer chegar, segue inspirando outras pessoas. “Eu acho que o mais realizador da minha trajetória hoje é ter pessoas que se inspiram em mim”, conta.
Quando pergunto o que ainda ambiciona, começa dizendo “falta muita coisa” e logo se corrige: “Minha mãe de santo falou que não posso falar que ‘falta muita coisa’”. Que esse conselho reverbere para todos nós: cada trajetória é única, os pontos de partida não são iguais e as realizações merecem ser celebradas passo a passo. Por mais que o tempo pareça engolir o agora e alguns sonhos se mostrem distantes, não falta muita coisa. Falta um tanto. E, com ambição e estratégia, é possível chegar lá.


