Mestre do samba carioca e ícone do pandeiro nos deixou aos 88 anos.
Por Marina de Sá
Morreu neste sábado (14), Ubirajara Félix do Nascimento, o Bira Presidente, fundador do Cacique de Ramos e um dos criadores do Fundo de Quintal. Internado na Barra da Tijuca, o músico lutava contra um câncer de próstata e enfrentava o avanço do Alzheimer. Sua morte encerra um ciclo, mas não interrompe o compasso de uma obra que atravessou gerações e transformou o samba de roda em movimento cultural de alcance nacional.
Bira era um mestre da conexão. Transformou o Cacique de Ramos em berço do pagode moderno, abriu caminhos para artistas que hoje são lendas, e nunca se afastou das rodas, mesmo quando a saúde já pedia descanso. “Sua atuação no Cacique de Ramos moldou o bloco e o samba, o Doce Refúgio se tornou um espaço de referência cultural. No Fundo de Quintal, foi o ponto de partida de uma linguagem que redefiniu a roda de samba e inspirou gerações”, afirmou nota do Cacique de Ramos.
Conhecido pelo pandeiro preciso e pelo sorriso aberto, Bira começou a ganhar projeção nacional depois dos 40 anos, com a consolidação do Fundo de Quintal no fim da década de 1970. Em tempos em que a juventude é pressionada a ter tudo resolvido antes dos 30, sua trajetória é lembrete potente: não há prazo para o reconhecimento quando se caminha com verdade e paixão. Bira construiu seu legado devagar e sempre – ou, em outras palavras, no miudinho –, com afeto, irreverência e total entrega ao samba.
Eu tinha 14 anos quando o vi pela primeira vez no palco, em um show com minha mãe. Fiquei hipnotizada: o pandeiro dançava nas mãos dele e o samba no pé o fazia flutuar como mágica. Era 2012, mas aquele instante segue vivo assim como seguem vivas as letras, as rodas, os batuques que ele ajudou a espalhar pelo Brasil. A morte de Bira não só a perda de um mestre, mas também um lembrete: o samba é memória, é raiz e é conexão que ultrapassa gerações. Sua morte é uma despedida sentida – mas seu legado segue firme, na memória coletiva e no miudinho que ele dançava como ninguém.